sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

Fome de Justiça


Os dias que passam aumentam a vontade de 'um mundo para todos', 'igualdade','Reino de Deus'. Utopia. O Horizonte estima os passos de alguns, o chão de espinhos desacelera a busca de outros e o cansaço ainda, traz a descrença.
A luta pela igualdade, está desde muito


"Considerando nossa fraqueza os senhores forjaram
Suas leis, para nos escravizarem.
As leis não mais serão respeitadas
Considerando que não queremos mais ser escravos.
Considerando que os senhores nos ameaçam
Com fuzis e com canhões
Nós decidimos: de agora em diante
Temeremos mais a miséria do que a morte.

Consideramos que ficaremos famintos
Se suportarmos que continuem nos roubando
Queremos deixar bem claro que são apenas vidraças
Que nos separam deste bom pão que nos falta.
Considerando que os senhores nos ameaçam
Com fuzis e canhões
Nós decidimos, de agora em diante
Temeremos mais a miséria que a morte.

Considerando que existem grandes mansões
Enquanto os senhores nos deixam sem teto
Nós decidimos: agora nelas nos instalaremos
Porque em nossos buracos não temos mais condições de ficar.
Considerando que os senhores nos ameaçam
Com fuzis e canhões
Nós decidimos, de agora em diante
Temeremos mais a miséria do que a morte.

Considerando que está sobrando carvão
Enquanto nós gelamos de frio por falta de carvão
Nós decidimos que vamos toma-lo
Considerando que ele nos aquecerá
Considerando que os senhores nos ameaçam
Com fuzis e canhões
Nós decidimos, de agora em diante
Temeremos mais a miséria do que a morte.

Considerando que para os senhores não é possível
Nos pagarem um salário justo
Tomaremos nós mesmos as fábricas
Considerando que sem os senhores, tudo será melhor para nós.
Considerando que os senhores nos ameaçam
Com fuzis e canhões
Nós decidimos: de agora em diante
Temeremos mais a miséria que a morte.

Considerando que o que o governo nos promete
Está muito longe de nos inspirar confiança
Nós decidimos tomar o poder
Para podermos levar uma vida melhor.
Considerando: vocês escutam os canhões
Outra linguagem não conseguem compreender
Deveremos então, sim, isso valerá a pena
Apontar os canhões contra os senhores!"

Os dias da Comuna - Bertold Brecht

Com a exploração extrema, movimentações contra o patrão e toda forma de exploração surgiram, desde as casas de Engenhos e os Palmares até a grande metrópole com ruas tomadas de canhões e estudantes revolucionários. 
Instituições totalitaristas, fascistas e as conservadoras, como a Igreja Católica, presenciavam e afirmavam suas identidades, que iam contra toda a vontade de Justiça dos que tinham suas vidas roubadas pela corrupção do sistema. Ainda pior, participaram da morte de muitos que se expunham na luta por: igualdade, verdade e comunhão - que tanto a igreja pregava (prega).
No entanto fora do organograma de poder da igreja, surgia, sim, homens com teor de amor verdadeiro, na  busca, verdadeira, do o tal Reino.

"Que está dizendo lá fora, donde estão chegando ventos tão velozes, tão impacientes, tão impiedosos? Que terão visto, que terão ouvido em sua caminhada pelo mundo tão cheios de ódio , de injustiças, de egoismo? Porque não consigo entende-los ou mesmo adivinha-los? Será a ti, Senhor, que eles falam? E lhe prestam ouvidos, Senhor? Ou perdem no espaço sem fim a revolta que tentam transmitir?"  - Dom Helder Câmara

"Se hoje teu vigário, chamar-me à morar em Roma, aceitarei qualquer trabalho, qualquer moradia, quaisquer condições que me forem impostas. Com o teu vigário não discuto. Terei um pedido único a fazer: Sr. Papa, me entregue os pobres de Roma. Quando ele abrir os olhos suavemente, teremos invadido o Vaticano." - Dom Helder Câmara

Dom Helder, não saia as ruas atrás dos canhões, mas fazia revolução, um ótimo trabalho na espreita da igreja. Conscientizava os fiéis, quebrava os conservadorismos, falava sobre política, explicava politica, falava sobre direitos, ajudava aos que não os tinha. Dom Helder revolucionou.
É hoje pensador que move a luta de grupos, a Pastoral da Juventude, por exemplo. Sua vivência ilumina a campanha contra o extermínio de jovens.

"Somente 1/3 da humanidade, por prêmio da loteria biológica, não é nascida numa das favelas do Rio, de São Paulo. Isso não deve significar um privilégio e sim uma RESPONSABILIDADE. O erro está nessa loteria biológica, toda a gente deveria nascer como Jesus, para viver e viver em plenitude. Este é um mundo que não discute hoje como alimentar à gente. "

Frei Beto

Frei Beto, que também luta e está com os pobres, faz história com a igreja, muda seus passos.


Se preocupa com o outro.... A comida do outro, a roupa do outro, a escola do outro, a saude do outro.


"O Filho de José e Maria nasceu como todos os filhos dos homens, sujo do sangue de sua mãe, viscoso de suas mucosidades e sofrendo em silêncio. Chorou porque o fizeram chorar, e chorará por esse mesmo e único motivo." José Saramago


A não crença num Deus, que está no céu, que olha por nós, nos protege do mal e bla bla bla não é o rótulo que justifica a insensibilidade, falta de caridade e amor ao próximo.
José Saramago, Português, escritor, ateu. Mirava a utopia, e não foi capaz nem de se gloriar com o prêmio Nobel da Paz, relacionava isso como muito pequeno ao tamanho do universo e os problemas que se têm.  A frase acima, de seu livro  "O Evangelho segundo Jesus Cristo", em 1992 foi censurado a mando da igreja católica de Portugal. 
Saramago dizia o que tinha de dizer, escrevia o que tinha de escrever. Não na mesma luta de escravos que tinham de se libertar de seus senhores, e decidiriam usar os canhões - por que outra linguagem não compreenderiam - não nas homilias bem proclamadas, não no trabalho missionário...  Pela palavra, pelo ataque direto da palavra, seja na crítica a um governo, na desconstrução de uma determinada imagem Jesus - contrária a que eu creio também- Não na MESMA luta mas pelos MESMOS FINS.






Homens com o mesmo não-medo da morte, com a mesma fome de Justiça. (Com JOTA, maiúsculo). A luta destes todos, distintos, mas por uma causa, a mesma causa. O escravo, o proletário, o bispo, o ateu, a fome de Justiça... 


A fome de Justiça...


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